Introdução
Como
é a linguagem literária da modernidade?
A linguagem de hoje procura usar palavras simples e
objetivas, de forma que até as pessoas menos estudadas compreendam o conteúdo.
Há o jogo de palavras, mas não como antigamente, que a linguagem era mais
rebuscada e regrada. A linguagem de hoje está mais livre e "solta".
Os autores procuram se expressar de modo claro e objetivo, fazendo a linguagem
escrita aproximar-se da falada, e,geralmente, desejam denunciar a realidade
como ela é.
Além das inovações técnicas, a linguagem torna-se coloquial e espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, e o estilo elevado com o estilo vulgar. Assim, liberto da escrita nobre, o artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que inclusive, admite erros gramaticais.
Os esforços redefiniram a linguagem artística que se unem a um forte interesse pelas temáticas nacionalistas.
Além das inovações técnicas, a linguagem torna-se coloquial e espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, e o estilo elevado com o estilo vulgar. Assim, liberto da escrita nobre, o artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que inclusive, admite erros gramaticais.
Os esforços redefiniram a linguagem artística que se unem a um forte interesse pelas temáticas nacionalistas.
Fernando
Pessoa
Biografia
Fernando Antônio Nogueira Pessoa foi um dos mais
importantes escritores e poetas do modernismo em Portugal. Nasceu em 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa (Portugal) e morreu, na mesma cidade, em 30
de novembro de 1935.
Foi morar, ainda na
infância, na cidade de Durban (África do Sul), onde seu pai tornou-se cônsul. Neste país teve
contato com a língua e literatura inglesa.
Em 1905, retornou
sozinho para Lisboa e, no ano seguinte, matriculou-se no Curso Superior
de Letras. Porém, abandou o
curso um ano depois.
Pessoa passou a ter contato mais efetivo com a literatura portuguesa, principalmente Padre Antônio Vieira e Cesário Verde. Foi também influenciado pelos estudos filosóficos de Nietzsche e Schopenhauer. Recebeu também influências do simbolismo francês.
Pessoa passou a ter contato mais efetivo com a literatura portuguesa, principalmente Padre Antônio Vieira e Cesário Verde. Foi também influenciado pelos estudos filosóficos de Nietzsche e Schopenhauer. Recebeu também influências do simbolismo francês.
Em 1912, começou suas
atividade como ensaísta e crítico literário, na revista Águia.
A saúde do poeta
português começou a apresentar complicações em 1935. Neste ano foi
hospitalizado com cólica hepática, provavelmente causada pelo consumo excessivo
de bebida alcoólica. Sua morte prematura, aos 47 anos, provavelmente aconteceu
em função destes problemas, pois apresentou cirrose hepática.
O ortônimo e os heterônimos de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa usou
em suas obras diversas autorias. Usou seu próprio nome (ortônimo) para assinar
várias obras e pseudônimos (heterônimos) para assinar outras. Os heterônimos de
Fernando Pessoa tinham personalidade própria e características literárias
diferenciadas. São eles:
Álvaro de Campos
Era um engenheiro português de educação inglesa. Influenciado pelo simbolismo e futurismo, apresentava um certo niilismo em suas obras.
Era um engenheiro português de educação inglesa. Influenciado pelo simbolismo e futurismo, apresentava um certo niilismo em suas obras.
Ricardo Reis
Era um médico que escrevia suas obras com simetria e harmonia. O bucolismo estava presente em suas poesias. Era um defensor da monarquia e demonstrava grande interesse pela cultura latina.
Era um médico que escrevia suas obras com simetria e harmonia. O bucolismo estava presente em suas poesias. Era um defensor da monarquia e demonstrava grande interesse pela cultura latina.
Alberto Caeiro
Com uma formação educacional simples (apenas o primário), este heterônimo fazia poesias de forma simples, direta e concreta. Suas obras estão reunidas em Poemas Completos de Alberto Caeiro.
Com uma formação educacional simples (apenas o primário), este heterônimo fazia poesias de forma simples, direta e concreta. Suas obras estão reunidas em Poemas Completos de Alberto Caeiro.
Poema do livro “Mensagem”
(1928)
O dos castelos
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
Comentários sobre a obra
O poema refere a localização geográfica de Portugal, onde
acaba também por caracterizar a Europa. Pessoa, caracteriza a Europa como uma
figura feminina. O verbo “jaz” refere-se ao facto de a Europa estar
deitada/adormecida, apenas vivendo dos acontecimentos do passado (decadência),
(As glórias da Europa do passado foram as origens gregas, expansão romana,
império colonial inglês). Os “românticos cabelos” representam o norte da Europa
e a miscigenação da raça enquanto os “Olhos gregos” representam o sul e as
heranças culturais no âmbito da ciência e da arte. Um braço encontra-se
repousado na Itália e o outro na Inglaterra, para simbolizar as origens romanas
e celtas na formação da identidade e também as raízes culturais da Europa. O
rosto da Europa é Portugal porque este foi o que mostrou a Europa ao resto do
mondo através do seu mar. O rosto fita “com olhar esfíngico e fatal/O Ocidente,
futuro do passado” que mostra uma atitude expectante, contemplativa,
enigmática, misteriosa à espera de realizações futuras (a oriente está o
passado e a ocidente encontra-se o futuro). Portugal é visto como a salvação da
Europa, renascendo o velho continente, recuperando o seu estatuto de potência
civilizadora, fazendo regressar à Europa, a glória do passado. Portugal (rosto)
vai acordar a Europa (figura feminina) adormecida, guiando-a.
Mário de Andrade
Biografia
Mário de Andrade nasceu em São Paulo, no ano de 1893. Professor,
crítico, poeta, contista, romancista e músico, formou-se pelo Conservatório
Dramático e Musical de São Paulo, passando a lecionar neste mesmo local
posteriormente. Participou da Semana
de Arte Moderna de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Durante sua trajetória, Mário de Andrade fundou a Sociedade de
Etnografia e Folclore e também passou por vários cargos públicos, entre estes, foi
diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.
Apesar de ter sido uma pessoa com inúmeras ocupações, este artista
modernista sempre tinha tempo para ajudar os escritores que ainda não eram
conhecidos.
Enquanto viveu, ele lutou pela arte com seu estilo de escrita puro
e verdadeiro. Certo de que a inteligência brasileira necessitava de
atualização, este escritor modernista nunca abandonou suas maiores virtudes: a
consciência artística e a dignidade intelectual.
Foram de sua autoria os versos de Paulicéia Desvairada,
considerada o marco inicial da poesia modernista no Brasil. Uma outra obra
deste artista que se destacou por sua contribuição ao movimento modernista foi
o livro Macunaíma, romance onde é mostrado um herói que tem as qualidades e defeitos
de um brasileiro comum.
Suas obras estão agrupadas em dezenove volumes com o título de
Obras Completas.
Reconhecido por sua contribuição na criação de idéias inovadoras,
Mário de Andrade morreu em São Paulo no ano de 1945.
Poema de Paulicéia Desvairada (1922)
Ode ao burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
_ Más nós morremos de fome!
Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
_ Más nós morremos de fome!
Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Comentários sobre a obra
Ode ao Burguês é o nono poema da obra Paulicéia desvairada,
de Mário de Andrade. Foi lido durante a Semana de Arte Moderna de 1922.
Em Ode ao Burguês,
Mário de Andrade atacou as elites retrógradas. O poema caracteriza uma fase do
Modernismo marcada pelo empenho na destruição de um passado literário, político
e cultural que mantinha a sociedade brasileira atada a modelos e comportamentos
que vigoraram em fins do século XIX. Em Ode ao Burguês,
Mário de Andrade atacou as elites retrógradas. O poema caracteriza uma fase do
Modernismo marcada pelo empenho na destruição de um passado literário, político
e cultural que mantinha a sociedade brasileira atada a modelos e comportamentos
que vigoraram em fins do século XIX.
No contexto revolucionário do modernismo, o termo “burguês” tem um campo semântico bem caracterizado. Com ele designa-se geralmente o inimigo, ou seja, o indivíduo que, indiferente às propostas de modernização estética e social, permanece preso ao passado. O próprio de seu comportamento é isolar-se do mundo por não querer se sujar. Insensível aos clamores da vida, o burguês refugia-se numa redoma asséptica e ali permanece, contemplando narcisicamente o próprio umbigo - “satisfeito de si”. Note-se quanto essa imagem evoca-nos a repetição, a autossuficiência do personagem que Mário de Andrade desanca neste poema intitulado, significativamente, Ode ao burguês (Ódio ao burguês). O universo do poeta opõe-se, radicalmente, ao conforto, luxo e opulência do mundo burguês; seu espaço está fora das quatro paredes, sua moradia é a rua, onde, no meio da massa amorfa, coloca-se ao lado dos desprotegidos, pobres e humildes.
A sátira em Ode ao burguês é coerente na medida em que seu alvo é o outro; é o burguês rico, ignorante, preocupado com o dinheiro, com as aparências e sem fé cristã. Não se pode, então, ver a crítica, a sátira dos modernistas em Ode ao burguês como caracterizadora de uma postura antiburguesa, uma vez que as
ideias desses modernistas não se chocavam com o burguês intelectualizado, ela se restringia ao burguês urbano e não ao burguês rural.
No contexto revolucionário do modernismo, o termo “burguês” tem um campo semântico bem caracterizado. Com ele designa-se geralmente o inimigo, ou seja, o indivíduo que, indiferente às propostas de modernização estética e social, permanece preso ao passado. O próprio de seu comportamento é isolar-se do mundo por não querer se sujar. Insensível aos clamores da vida, o burguês refugia-se numa redoma asséptica e ali permanece, contemplando narcisicamente o próprio umbigo - “satisfeito de si”. Note-se quanto essa imagem evoca-nos a repetição, a autossuficiência do personagem que Mário de Andrade desanca neste poema intitulado, significativamente, Ode ao burguês (Ódio ao burguês). O universo do poeta opõe-se, radicalmente, ao conforto, luxo e opulência do mundo burguês; seu espaço está fora das quatro paredes, sua moradia é a rua, onde, no meio da massa amorfa, coloca-se ao lado dos desprotegidos, pobres e humildes.
A sátira em Ode ao burguês é coerente na medida em que seu alvo é o outro; é o burguês rico, ignorante, preocupado com o dinheiro, com as aparências e sem fé cristã. Não se pode, então, ver a crítica, a sátira dos modernistas em Ode ao burguês como caracterizadora de uma postura antiburguesa, uma vez que as
ideias desses modernistas não se chocavam com o burguês intelectualizado, ela se restringia ao burguês urbano e não ao burguês rural.
Manuel Bandeira
Biografia
Este notável poeta do modernismo brasileiro nasceu em Recife,
Pernambuco, no ano de 1886. Teve seu talento evidenciado desde cedo
quando já se destacava nos estudos.
Durante o período em que cursava a Faculdade Politécnica em São Paulo,
Bandeira precisou deixar os estudos para ir à Suíça na busca de tratamento para
sua tuberculose. Após sua recuperação, ele retornou ao Brasil e publicou seu
primeiro livro de versos, Cinza das Horas, no ano de 1917; porém, devido à
influência simbolista, esta obra não teve grande destaque.
Dois anos mais tarde este talentoso escritor agradou muito ao escrever
Carnaval, onde já mostrava suas tendências modernistas. Posteriormente,
participou da Semana de Arte Moderna de 1922, descartando de vez o lirismo bem comportado. Passou a abordar temas
com mais encanto, sendo que muitos deles tinham foco nas recordações de
infância.
Além de poeta, Manuel Bandeira exerceu também outras atividades:
jornalista, redator de crônicas, tradutor, integrante da Academia Brasileira de
Letras e também professor de História da Literatura no Colégio Pedro II e de Literatura Hispano-Americana na faculdade do Brasil, Rio de Janeiro.
Este, que foi um dos nomes mais importantes do modernismo no Brasil,
faleceu no ano 1968.
Estrela da Manhã (1936)
Eu queria a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda à parte
Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
Três dias e três noite
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Pecai com malandros
Pecai com sargentos
Pecai com fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois comigo
Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
[comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda à parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.
Eu queria a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda à parte
Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
Três dias e três noite
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Pecai com malandros
Pecai com sargentos
Pecai com fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois comigo
Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
[comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda à parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.
Comentários sobre a obra
Estrela da manhã, de Manuel Bandeira, é um poema representativo da
literatura contemporânea. Avulta o tom erótico, denso e sugestivo, expondo um
Bandeira viril e carnal. A mulher inatingível, difícil, até mesmo decadente,
preenche, com seu corpo, a imaginação do poeta.
A visão desses dois mundos - o ideal, do sonho, onde habita o que está por ser atingido, e o material, da realidade das ruas - transparece liricamente neste poema.
Estrela da Manhã é um dos mais expressivos poemas lírico-amoroso de todo o Modernismo. Observe a celebração da mulher amada, evocada na metáfora "estrela"; a enumeração caótica das imagens, o desconcerto amoroso. Na quinta e sexta estrofes, observe uma espécie de ladainha para celebrar a amada, para fazer uma invocação (na verdade, é uma paródia da ladainha para a Virgem Maria, que acompanhava a reza do terço: consoladora dos aflitos / rogai por nós etc). Observe a intensidade - até o delírio - da confissão amorosa nas duas últimas estrofes.
Ao final da leitura deste poema, não sabemos com absoluta convicção o que essa estrela simboliza. Uma mulher experiente que o poeta deseja? Uma prostituta? A própria vida a que Bandeira pela doença foi obrigado a abdicar?
A visão desses dois mundos - o ideal, do sonho, onde habita o que está por ser atingido, e o material, da realidade das ruas - transparece liricamente neste poema.
Estrela da Manhã é um dos mais expressivos poemas lírico-amoroso de todo o Modernismo. Observe a celebração da mulher amada, evocada na metáfora "estrela"; a enumeração caótica das imagens, o desconcerto amoroso. Na quinta e sexta estrofes, observe uma espécie de ladainha para celebrar a amada, para fazer uma invocação (na verdade, é uma paródia da ladainha para a Virgem Maria, que acompanhava a reza do terço: consoladora dos aflitos / rogai por nós etc). Observe a intensidade - até o delírio - da confissão amorosa nas duas últimas estrofes.
Ao final da leitura deste poema, não sabemos com absoluta convicção o que essa estrela simboliza. Uma mulher experiente que o poeta deseja? Uma prostituta? A própria vida a que Bandeira pela doença foi obrigado a abdicar?
Carlos Drummond de Andrade
Biografia
Este
consagrado poeta brasileiro nasceu em Itabira, Minas Gerais no ano de
1902. Tornou-se, pelo conjunto de sua obra, um dos principais
representantes da literatura brasileira do século XX.
Concretizou
seus estudos em Belo Horizonte, e, neste mesmo
local, deu início a sua carreira de redator, na imprensa. Também trabalhou por vários
anos como funcionário público.
Seus poemas abordam assuntos do dia a dia, e contam com uma boa dose
de pessimismo
e ironia diante da vida. Em suas obras, há ainda uma permanente ligação com o meio e obras
politizadas. Além das poesias, escreveu diversas crônicas e contos.
Os principais temas retratados nas poesias de Drummond são:
conflito social, a família e os amigos, a existência humana, a visão sarcástica
do mundo e das pessoas e as lembranças da terra natal.
Dentre suas obras poéticas mais importantes destacam-se: Brejo das Almas,
Sentimento do Mundo, José, Lição de Coisas, Viola de Bolso, Claro Enigma, Fazendeiro
do Ar, A Vida Passada a Limpo e Novos Poemas,
Talentoso
também na prosa, tem suas prosas reunidas nos seguintes volumes: Confissões de Minas, Contos de Aprendiz, Passeios na Ilha e Fala
Amendoeira.
Na década de 1980 lançou as seguintes obras: A Paixão Medida,
que contém 28 poemas inéditos; Caso do Vestido (1983); Corpo
(1984); Amar se aprende amando (1985) e Poesia Errante (1988).
Faleceu em 17 de agosto de 1987, no Rio de Janeiro, doze
dias após a morte de sua filha única.
José (1942)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?
Comentários
sobre a obra
A partir de Sentimento do Mundo (1940),
Carlos Drummond de Andrade parece se armar em relação a si próprio e ao mundo.
E, se o individualismo evidente nos primeiros livros é mais util, não é por
isso menor. O mesmo "eu-oblíquo" contempla-se a si e ao mundo; e, se
muitas vezes o pronome na primeira pessoa desaparece, o poeta se desdobra em
uma terceira pessoa:
- o impessoal "se": "Chega um tempo em que não se diz mais: 'Meu Deus'." (Sentimento do Mundo);
- o homem qualquer: "Ó solidão do boi no campo, / ó solidão do homem na rua!" ("O boi");
- a simples constatação do fato: "Lutar com palavras / é a luta mais vã" ("O lutador");
até chegar a um outro "eu", "José" - "E agora, José?" ("José"), que se pergunta sobre o significado da própria existência e do mundo. Mas este "José" não é outro senão o poeta. A personagem funciona, no poema, como o desdobramento da personalidade poética do autor, tanto quanto nas demais situações apontadas, atrás de quem o poeta se esconde e se desvenda.
O “não-ser” se faz presente neste poema por meio do modo verbal subjuntivo que torna a ação imprecisa:
“...Se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...”
José não dorme, não cansa, não morre, ele é duro, apenas segue. Sua dureza é o que existe e tudo mais é o “nada” no qual ele se funde. Chama-se atenção para o caráter construtivo que o Existencialismo dá à categoria “nada”, ele é o inexistente, mais traz em si o por fazer.
Escrito durante a Segunda Guerra Mundial e da ditadura de Vargas, José, apesar da dureza, ainda tem o impulso de continuar seguindo. Mesmo sem saber para onde: “...Você marcha, José! / José, para onde?”
- o impessoal "se": "Chega um tempo em que não se diz mais: 'Meu Deus'." (Sentimento do Mundo);
- o homem qualquer: "Ó solidão do boi no campo, / ó solidão do homem na rua!" ("O boi");
- a simples constatação do fato: "Lutar com palavras / é a luta mais vã" ("O lutador");
até chegar a um outro "eu", "José" - "E agora, José?" ("José"), que se pergunta sobre o significado da própria existência e do mundo. Mas este "José" não é outro senão o poeta. A personagem funciona, no poema, como o desdobramento da personalidade poética do autor, tanto quanto nas demais situações apontadas, atrás de quem o poeta se esconde e se desvenda.
O “não-ser” se faz presente neste poema por meio do modo verbal subjuntivo que torna a ação imprecisa:
“...Se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...”
José não dorme, não cansa, não morre, ele é duro, apenas segue. Sua dureza é o que existe e tudo mais é o “nada” no qual ele se funde. Chama-se atenção para o caráter construtivo que o Existencialismo dá à categoria “nada”, ele é o inexistente, mais traz em si o por fazer.
Escrito durante a Segunda Guerra Mundial e da ditadura de Vargas, José, apesar da dureza, ainda tem o impulso de continuar seguindo. Mesmo sem saber para onde: “...Você marcha, José! / José, para onde?”
Cecília
Meireles
Biografia
Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da
literatura brasileira. Seus poemas encantam os leitores de todas as idades.
Nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro e seu nome
completo era Cecília Benevides de Carvalho Meireles.
Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu a mãe com
apenas três anos de idade e o pai não chegou a conhecer (morreu antes de seu
nascimento). Foi criada pela avó Dona Jacinta. Por volta dos nove anos de
idade, Cecília começou a escrever suas primeiras poesias.
Formou-se professora (cursou a Escola Normal) e com apenas 18 anos
de idade, no ano de 1919, publicou seu primeiro livro “Espectro” (vários poemas
de caráter simbolista). Embora fosse o auge do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento
literário simbolista.
No ano de 1922, Cecília casou-se com o pintor Fernando Correia
Dias. Com ele, a escritora teve três filhas.
Sua formação como professora e interesse pela educação levou-a a
fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934.
Escreveu várias obras na área de literatura infantil como, por exemplo, “O
cavalinho branco”, “Colar de Carolina”, “Sonhos de menina”, “O menino azul”,
entre outros. Estes poemas infantis são marcados pela musicalidade (uma das
principais características de sua poesia).
O marido suicidou-se em 1936, após vários anos de sofrimento por
depressão. O novo casamento de Cecília aconteceu somente em 1940, quando
conheceu o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira.
No ano de 1939, Cecília publicou o livro Viagem. A beleza das
poesias trouxe-lhe um grande reconhecimento dos leitores e também dos
acadêmicos da área de literatura. Com este livro, ganhou o Prêmio
de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Cecília faleceu em sua cidade
natal no dia 9 de novembro de 1964.
Poesia da obra “Viagem”-
(1939)
Retrato
EU NÃO tinha êste rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem êstes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem fôrça,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha êste coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espêlho ficou perdida
a minha face?
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem êstes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem fôrça,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha êste coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espêlho ficou perdida
a minha face?
Comentários sobre a obra
a atmosfera de dor existencial que emana dos
poemas de Cecília Meireles é centrada na percepção de que tudo passa e de que o
fluir do tempo dissolve as ilusões e os amores, o corpo e mesmo a memória. Um
exemplo desta visão sofrida está no poema “retrato”. Quanto à forma poética, o
texto, em parte, liga-se ao modernismo pela ausência de rimas, que confere uma
fluidez mais coloquial à linguagem. No entanto, a estrofação regular (quatro
versos) e a métrica, também regular ( os versos maiores variam entre 8 e 9
sílabas, e os menores, com exceção do 4.º verso, têm 4 sílabas), indicam uma
poesia vinculada ao tradicional ( resquícios da poesia simbolista). o poema
explora a musicalidade através da aliteração do som nasal, sugerindo, neste
caso, um lamento frente à situação presente.
Graciliano
Ramos
Biografia
Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo (AL),
em 1892. Um dos 15 filhos de uma família de classe média do sertão nordestino,
passou parte da infância em Buíque (PE) e outra em Viçosa (AL). Fez estudos
secundários em Maceió, mas não cursou faculdade. Em 1910, sua família se
estabelece em Palmeira dos Índios (AL).
Em 1914, após breve estada no Rio de Janeiro, trabalhando como revisor, retorna à cidade natal, depois da morte de três irmãos, vitimados pela peste bubônica. Passa a fazer jornalismo e política em Palmeira dos Índios, chegando a ser prefeito da cidade (1928-30).
Em 1925, começa a escrever seu primeiro romance, Caetés - que viria a ser publicado em 1933. Muda-se para Maceió em 1930, e dirige a Imprensa e Instrução do Estado. Logo viriam "São Bernardo" (1934) e "Angústia" (1936, ano em que foi preso pelo regime Vargas, sob a acusação de subversão).
Memórias do Cárcere (1953) é um contundente relato da experiência na prisão. Após ser solto, em 1937, Graciliano transfere-se para o Rio de Janeiro, onde continua a publicar não só romances, mas contos e livros infantis. Vidas Secas é de 1938.
Em 1945, ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Sua viagem para a Rússia e outros países do bloco socialista é relatada em Viagem, publicado em 1953, ano de sua morte.
Em 1914, após breve estada no Rio de Janeiro, trabalhando como revisor, retorna à cidade natal, depois da morte de três irmãos, vitimados pela peste bubônica. Passa a fazer jornalismo e política em Palmeira dos Índios, chegando a ser prefeito da cidade (1928-30).
Em 1925, começa a escrever seu primeiro romance, Caetés - que viria a ser publicado em 1933. Muda-se para Maceió em 1930, e dirige a Imprensa e Instrução do Estado. Logo viriam "São Bernardo" (1934) e "Angústia" (1936, ano em que foi preso pelo regime Vargas, sob a acusação de subversão).
Memórias do Cárcere (1953) é um contundente relato da experiência na prisão. Após ser solto, em 1937, Graciliano transfere-se para o Rio de Janeiro, onde continua a publicar não só romances, mas contos e livros infantis. Vidas Secas é de 1938.
Em 1945, ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Sua viagem para a Rússia e outros países do bloco socialista é relatada em Viagem, publicado em 1953, ano de sua morte.
Fragmento da Obra
“Vidas Secas” (1938)
“ A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha
emagrecido, o pêlo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo
róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As
chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida.
Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel.
Então Fabiano resolveu matá-la. [...]
Sinha Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: — Vão bulir com a Baleia?
[...]
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas sinha Vitória levou-os para a cama de varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos: prendeu a cabeça do mais velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-se e tratou de subjugá-los, resmungando com energia.
Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia. [...] “
Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel.
Então Fabiano resolveu matá-la. [...]
Sinha Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: — Vão bulir com a Baleia?
[...]
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas sinha Vitória levou-os para a cama de varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos: prendeu a cabeça do mais velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-se e tratou de subjugá-los, resmungando com energia.
Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia. [...] “
Comentários sobre
a Obra
"Vidas Secas" é um
dos maiores expoentes da segunda fase modernista, a do regionalismo. O
diferencial desse livro para os demais da época é o apuro técnico do autor.
Graciliano Ramos, ao explorar a temática regionalista, utiliza vários
expedientes formais – discurso indireto livre, narrativa não-linear, nomes dos
personagens – que confirmam literariamente a denúncia das mazelas sociais.
O livro consegue desde o título mostrar a desumanização que a seca promove nos personagens, cuja expressão verbal é tão estéril quanto o solo castigado da região. A miséria causada pela seca, como elemento natural, soma-se à miséria imposta pela influência social, representada pela exploração dos ricos proprietários da região.
Os retirantes, como o próprio nome indica, estão alijados da possibilidade de continuar a viver no espaço que ocupavam. São, portanto, obrigados a retirar-se para outros lugares. Uma das implicações dessa vida nômade dos sertanejos é a fragmentação temporal e espacial.
Graciliano Ramos conseguiu captar essa fragmentação na estrutura de Vidas Secas ao utilizar um método de composição que rompia com a linearidade temporal, costumeira nos romances do século XIX.
A proposital falta de linearidade, ou seja, de capítulos que se ligam temporalmente, por relações de causa e de consequência, dá aos 13 capítulos de Vidas Secas uma autonomia que permite, até mesmo, a leitura de cada um de forma independente.
O livro consegue desde o título mostrar a desumanização que a seca promove nos personagens, cuja expressão verbal é tão estéril quanto o solo castigado da região. A miséria causada pela seca, como elemento natural, soma-se à miséria imposta pela influência social, representada pela exploração dos ricos proprietários da região.
Os retirantes, como o próprio nome indica, estão alijados da possibilidade de continuar a viver no espaço que ocupavam. São, portanto, obrigados a retirar-se para outros lugares. Uma das implicações dessa vida nômade dos sertanejos é a fragmentação temporal e espacial.
Graciliano Ramos conseguiu captar essa fragmentação na estrutura de Vidas Secas ao utilizar um método de composição que rompia com a linearidade temporal, costumeira nos romances do século XIX.
A proposital falta de linearidade, ou seja, de capítulos que se ligam temporalmente, por relações de causa e de consequência, dá aos 13 capítulos de Vidas Secas uma autonomia que permite, até mesmo, a leitura de cada um de forma independente.
Oswald de Andrade
Biografia
Um dos principais literatos do modernismo no Brasil, José Oswald
de Sousa Andrade nasceu em São Paulo no ano de 1890 e viveu até 1954, ano de
seu falecimento.
Em 1916 deu inicio ao livro Memórias Sentimentais de João de
Miramar. Em 1917 conheceu Mario de Andrade e a partir de então, passaram a
trabalhar juntos iniciando movimentos que visavam a Semana
de Arte Moderna de 1922, que ocorreu em 1922.
Ainda no ano de 1922, o escritor modernista Oswald de Andrade
escreveu o romance Trilogia do Exílio. A partir de então, escreveu outras obras:
Estrela de Absinto, A Escada Vermelha, Primeiro
Caderno do Aluno de Poesia, etc.
No ano de 1924, Oswald lançou na Europa o movimento nativista
Pau-Brasil. Para dar continuidade a este movimento, ele fundou, em 1927, a
Revista de Antropologia com seu Manifesto Antropofágico.
Com A Crise da Filosofia Messiânica, ele passou a ser livre Docente de Literatura
Brasileira na Universidade de São Paulo.
Além dos livros escritos por ele, Oswald de Andrade foi o
precursor de perspectivas totalmente inexploradas pelo teatro brasileiro.
Trecho
do livro
“Primeiro
Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade” (1927)
“Senhor
Que eu não fique nunca
Como esse velho inglês
Aí do lado
Que dorme numa cadeira
À espera de visitas que não vêm “
Que eu não fique nunca
Como esse velho inglês
Aí do lado
Que dorme numa cadeira
À espera de visitas que não vêm “
Comentários sobre a
obra
Misto de paródia e invenção, este
clássico do modernismo brasileiro,Primeiro
caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, de Oswald de Andrade,
publicado em 1927, além de colocar em xeque o conceito tradicional de livro de
poemas, radicaliza procedimentos poéticos da vanguarda: o estilo telegráfico e
a montagem. Ao publicar o Primeiro caderno do aluno de poesia do aluno
Oswald de Andrade, ele buscava uma poesia como que feita por criança,
uma poesia que visse o mundo com olhos novos.
O livro se apresenta como se fosse efetivamente um caderno de poesias de um jovem estudante. Arabescos, rabiscos, caricaturas são inseridas ao lado de poemas, alguns tão breves e sintéticos que nos dão a impressão de inacabados, de rascunhos ou esboços. No frontispício há a parodia dos ramos de café do brasão nacional, colocando em cada folha o nome de um estado numa divisão silábica por vezes sugerindo o improviso do desenho ou a ingenuidade do jovem poeta (Amazona - s; Cergipe) ou brincadeiras com os nomes dos estados (“Goyabada” por Goiás; Rio Parahyba; Lá no Piauhi).
O livro se apresenta como se fosse efetivamente um caderno de poesias de um jovem estudante. Arabescos, rabiscos, caricaturas são inseridas ao lado de poemas, alguns tão breves e sintéticos que nos dão a impressão de inacabados, de rascunhos ou esboços. No frontispício há a parodia dos ramos de café do brasão nacional, colocando em cada folha o nome de um estado numa divisão silábica por vezes sugerindo o improviso do desenho ou a ingenuidade do jovem poeta (Amazona - s; Cergipe) ou brincadeiras com os nomes dos estados (“Goyabada” por Goiás; Rio Parahyba; Lá no Piauhi).
Murilo
Mendes
Biografia
Murilo Monteiro Mendes
nasceu em 1901, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Iniciou os estudos em sua terra
natal e depois no Colégio Salesiano, em Niterói. Depois de formado exerceu
diversas atividades profissionais, como dentista, telegrafista, auxiliar de
guarda-livros, notário e Inspetor Federal de Ensino.
Quando rapaz, por não conseguir se encaixar na escola ou no trabalho, foi morar com seu irmão mais velho no Rio de Janeiro. Onde acabou firmando-se como escrivão.
Sob a influência de Belmiro Braga, mestre e vizinho iniciou nas letras e passou a participar, eventualmente, de publicações modernistas como, “Terra Roxa e Outras Terras” e “Antropofagia onde, aos 24 anos publicou o poema Mapa.
Em 1930, publicou “Poemas”, seu primeiro livro, sempre negando ser filiado de algum movimento específico, nem mesmo do Modernismo, até que em 1934 converteu-se ao Catolicismo e, com Jorge de Lima, dedicou-se à poesia religiosa, mística, num movimento de "restauração da poesia em Cristo".
De 1953 a 1955 percorreu diversos países da Europa, divulgando, em conferências, a cultura brasileira. Em 1957, se estabeleceu em Roma, onde lecionou Literatura Brasileira. Faleceu, em Portugal, em 1975.
Quando rapaz, por não conseguir se encaixar na escola ou no trabalho, foi morar com seu irmão mais velho no Rio de Janeiro. Onde acabou firmando-se como escrivão.
Sob a influência de Belmiro Braga, mestre e vizinho iniciou nas letras e passou a participar, eventualmente, de publicações modernistas como, “Terra Roxa e Outras Terras” e “Antropofagia onde, aos 24 anos publicou o poema Mapa.
Em 1930, publicou “Poemas”, seu primeiro livro, sempre negando ser filiado de algum movimento específico, nem mesmo do Modernismo, até que em 1934 converteu-se ao Catolicismo e, com Jorge de Lima, dedicou-se à poesia religiosa, mística, num movimento de "restauração da poesia em Cristo".
De 1953 a 1955 percorreu diversos países da Europa, divulgando, em conferências, a cultura brasileira. Em 1957, se estabeleceu em Roma, onde lecionou Literatura Brasileira. Faleceu, em Portugal, em 1975.
Poema
do livro “ Tempo e Eternidade” (1935)
A Graça
Desaba uma chuva de pedras, uma enxurrada de estátuas de ídolos
caindo, manequins descoloridos, figuras vermelhas se desencarnando
dos livros que encerram as ações dos humanos.
E o meu corpo espera sereno o fim deste acontecimento, mas a minha
alma se debate porque o tempo rola, rola.
Até que tu, impaciente, rebentas a grade do sacrário; e me estendes
os braços: e posso atravessar contigo o mundo em pânico.
E o arco-de-Deus se levanta sobre mim, criação transformada.
Desaba uma chuva de pedras, uma enxurrada de estátuas de ídolos
caindo, manequins descoloridos, figuras vermelhas se desencarnando
dos livros que encerram as ações dos humanos.
E o meu corpo espera sereno o fim deste acontecimento, mas a minha
alma se debate porque o tempo rola, rola.
Até que tu, impaciente, rebentas a grade do sacrário; e me estendes
os braços: e posso atravessar contigo o mundo em pânico.
E o arco-de-Deus se levanta sobre mim, criação transformada.
Comentários sobre a obra
Em Tempo
e eternidade (1935),
escrito em parceria com Jorge de Lima, Murilo Mendes passa a cultivar a poesia
religiosa, mística, de "restauração da poesia em Cristo". Sua obra
ganha em densidade, uma vez que, apesar do dilema entre a Poesia e a Igreja, o
finito e o infinito, o material e o espiritual, o poeta não abandona a temática
social. Surge daí a consciência do caos, de um mundo esfacelado, de uma
civilização decadente, tema constante em sua obra.
A
tarefa do poeta é tentar ordenar esse caos, utilizando-se para isso da lógica,
da criatividade e do poder de libertação do trabalho poético.
Monteiro
Lobato
Biografia
Contista, ensaísta e tradutor, este grande nome da literatura
brasileira nasceu na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, no ano de
1882. Formado em Direito, atuou como promotor público até se tornar fazendeiro,
após receber herança deixada pelo avô. Diante
de um novo estilo de vida, Lobato passou a publicar seus primeiros contos em
jornais e revistas, sendo que, posteriormente, reuniu uma série deles em
Urupês, obra prima deste famoso escritor.
Em uma época em que os livros brasileiros eram editados em Paris
ou Lisboa, Monteiro Lobato tornou-se também editor, passando a editar livros
também no Brasil. Com isso, ele implantou uma série de renovações nos livros
didáticos e infantis.
Este notável escritor é bastante conhecido entre as crianças, pois
se dedicou a um estilo de escrita com linguagem simples onde realidade e
fantasia estão lado a lado. Pode-se dizer que ele foi o precursor da literatura
infantil no Brasil.
Suas personagens mais conhecidas são: Emília, uma boneca de pano
com sentimento e idéias independentes; Pedrinho, personagem que o autor se
identifica quando criança; Visconde de Sabugosa, a sabia espiga de milho que
tem atitudes de adulto, Cuca, vilã que aterroriza a todos do sítio, Saci Pererê e outras personagens que fazem parte da inesquecível obra: O Sítio
do Pica-Pau Amarelo, que até hoje encanta muitas crianças e adultos.
Escreveu ainda outras incríveis obras infantis, como: A Menina do
Nariz Arrebitado, O Saci, Fábulas do Marquês de Rabicó, Aventuras do Príncipe,
Noivado de Narizinho, O Pó de Pirlimpimpim, Reinações de Narizinho, As Caçadas
de Pedrinho, Emília no País da Gramática, Memórias da Emília, O Poço do
Visconde, O Pica-Pau Amarelo e A Chave do Tamanho.
Fora os livros infantis, este escritor brasileiro escreveu outras
obras literárias, tais como: O Choque das Raças, Urupês, A Barca de Gleyre e o
Escândalo do Petróleo. Neste último livro, demonstra
todo seu nacionalismo, posicionando-se totalmente favorável a exploração do
petróleo apenas por empresas brasileiras.
No ano de 1948, o Brasil perdeu este grande talento que tanto contribuiu com o
desenvolvimento de nossa literatura.
Resumo
de uns dos contos do livro
“Urupês”
(1918)
Principal conto presente no livro, em “Urupês” Monteiro Lobato apresenta uma de suas maiores personagens: o Jeca Tatu. O título vem do apelido que essa personagem tem, “urupê” – que é uma espécie de fungo parasita. O Jeca Tatu é o representante máximo do caboclo que vive na lei do menor esforço, alimentando-se e curando-se daquilo que a natureza lhe oferece. Sem nenhum tipo de educação e alheio a tudo o que acontece pelo mundo, o Jeca Tatu representa a ignorância do homem do campo. Por fim, pode-se dizer que ele é a denúncia do descaso do governo com relação às pessoas da zona rural uma vez que, segundo Monteiro Lobato, “Jeca Tatu não é assim, ele está assim”.
Comentários
sobre a Obra
Conto principal, em que o título dá o nome ao
livro, dando
vida ao que seria sua mais famosa personagem: o caboclo Jeca Tatu. Se o índio
surgira como modelo ideal do brasileiro para os escritores do Romantismo da
fase indianista, a figura do caboclo aparecia como seu substituto moderno – ao
que Monteiro Lobato chamou de “caboclismo”. Porém, o caboclo de Monteiro Lobato
não era em nada idealizado, mas ao contrário, trazia suas características
negativas enfatizadas e o seu símbolo máximo é a personagem Jeca Tatu.
Além do surgimento de uma
das personagens mais icônicas da literatura brasileira (Jeca Tatu), Urupês
trouxe uma série de inovações e sua importância se estende até os dias atuais.
Uma delas diz respeito à linguagem empregada no livro. Monteiro Lobato estava
preocupado em reproduzir nos seus textos a riqueza da fala brasileira da zona
rural, com seus coloquialismos e neologismos tipicamente orais. De acordo com a
crítica literária, o recurso da oralidade foi a maior ousadia do escritor em
Urupês, pois nessa época o uso do português coloquial em obras era visto como
algo “inferior” e sem valor literário. Dessa forma, pode-se dizer que Urupês é
uma obra que de certa forma antecede as convenções estilísticas propostas
pelos modernistas da Semana
de 22.
Ainda com relação à
linguagem empregada por Monteiro Lobato, é interessante notar a grande
influência que Urupês teve sobre a língua portuguesa falada no Brasil. A partir
do livro surgiram diversas palavras e expressões que hoje são dicionarizadas,
como por exemplo o termo “jeca”, que vem da personagem Jeca Tatu e passou a ser
sinônimo de “caipira”, “morador da zona rural” ou ainda “pessoa de hábitos
rudimentares”.
Guimarães
Rosa
Biografia
João Guimarães Rosa (1908-1967) foi um dos maiores prosistas do século XX. De um estilo único e
particular de linguagem e narrativa, Guimarães Rosa sempre usou a realidade
como fonte de inspiração sem descrevê-la documentalmente. Mineiro, o médico e
diplomata Guimarães Rosa ganhou prêmios como poeta e contista já no início da
carreira, na década de 30. Como servia na Alemanha em 1942, foi preso durante a
guerra diplomática. A partir do fim do Estado Novo Guimarães Rosa vai ganhando
força e qualidade como escritor. Em
1956 publica sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas. Dois anos depois tornou-se
ministro e em 1963 foi eleito para a ABL. Foi adiando sua posse durante quatro
anos e acabou por falecer três dias após empossado. Guimarães Rosa começou a
partir do Regionalismo mineiro, mas sua obra partiu para o universal,
experimental e fantástico (nos dois sentidos), com grande profundidade
psicológica. Guimarães Rosa pode ser considerado um dos melhores, se não melhor
prosista da chamada geração de 45, tendo sido ótimo não apenas em seus
romances, como também em seus contos.
Resumo
de um dos contos do livro “Sagarana” (1946)
“O
burrinho pedrês”
Enredo: Sete-de-Ouros é um burrinho decrépito que já fora bom e útil para seus vários donos. Esquecido na fazenda do Major Saulo, tem o azar de ser avistado numa travessia pelo dono da fazenda, que o escala para ajudar no transporte do gado. Na travessia do Córrego da Fome, todos os cavalos e vaqueiros morrem, exceto dois: Francolim e Badu; este montado e aquele agarrado ao rabo do Burrinho Sete-de-Ouros.
Principais personagens: Sete-de- Ouros (burrinho pedrês), Major Saulo, Francolim e Badu.
Enredo: Sete-de-Ouros é um burrinho decrépito que já fora bom e útil para seus vários donos. Esquecido na fazenda do Major Saulo, tem o azar de ser avistado numa travessia pelo dono da fazenda, que o escala para ajudar no transporte do gado. Na travessia do Córrego da Fome, todos os cavalos e vaqueiros morrem, exceto dois: Francolim e Badu; este montado e aquele agarrado ao rabo do Burrinho Sete-de-Ouros.
Principais personagens: Sete-de- Ouros (burrinho pedrês), Major Saulo, Francolim e Badu.
Comentários sobre a Obra
Os narradores de
"Sagarana" têm o estilo marcante criado por Guimarães Rosa, cuja
principal característica é a oralidade. No entanto, esse traço ainda não está
tão acentuado como em obras posteriores, como "Grande Sertão:
Veredas" e "Primeiras Estórias", entre outras. Considerando que
a oralidade acentuada é um dos principais obstáculos para a leitura de
Guimarães Rosa, o livro "Sagarana" é uma excelente opção para
iniciar-se na obra do autor.
Em relação ao foco narrativo, com exceção dos contos “Minha Gente” e “São Marcos” – que são narrados em primeira pessoa –, os demais possuem narradores em terceira pessoa. Quanto ao tempo e ao espaço de "Sagarana", pouco há o que ser dito. Sobre o primeiro elemento, vale destacar a linearidade da narrativa, que se desenvolve na maior parte sob o tempo psicológico dos personagens.
O espaço é quase sempre Minas Gerais. Mais especificamente, o interior do estado. Vale uma atenção maior para o nome dos povoados e vilarejos dos contos. Os estados de Goiás e do Rio de Janeiro são mencionados no livro, mas têm pouca relevância na narrativa
Em relação ao foco narrativo, com exceção dos contos “Minha Gente” e “São Marcos” – que são narrados em primeira pessoa –, os demais possuem narradores em terceira pessoa. Quanto ao tempo e ao espaço de "Sagarana", pouco há o que ser dito. Sobre o primeiro elemento, vale destacar a linearidade da narrativa, que se desenvolve na maior parte sob o tempo psicológico dos personagens.
O espaço é quase sempre Minas Gerais. Mais especificamente, o interior do estado. Vale uma atenção maior para o nome dos povoados e vilarejos dos contos. Os estados de Goiás e do Rio de Janeiro são mencionados no livro, mas têm pouca relevância na narrativa
Bom
pessoal, esse é um Trabalho de LPL (Língua Portuguesa e Literatura) que eu e a
minha amiga Morgana Aguiar fizemos, está no projeto da pagina 28 do Caderno do
Aluno Volume 1, da 3ª série do Ensino Médio (2013). Espero que AJUDEM muito vocês!![viram o quanto eu sou boazinha?! hahaha ].
Bom
aproveito!
Vlw! Salvou minha vida!!
ResponderExcluirPor nada :)
Excluir